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DISCURSO: DIRETO, INDIRETO E INDIRETO LIVRE


 
Discurso é uma parte essencial de qualquer narrativa, ao qual refere-se à fala dos personagens. Não só daqueles que fazem parte direta da trama, mas como também aquele a narra. É importante levar em conta, ao escrever tais discursos as características dos personagens, sua idade, sua instrução ou ainda a região em que vive.

O discurso, que embora possa você, leitor, não entender nessa introdução, não é menos que algo que se usa e se lê a todo momento: as ideias dos personagens, sus opiniões, digressões, diálogos.
E esses se dividem em três, a começar pelo mais simples:


Discurso Direto e Indireto

Discurso direto é, simplesmente, aquela conversa, ou a simples fala, por vezes antecedidas por um travessão, ou, como fazem no estrangeiro, posta entre aspas. É a direta representação de uma fala.
Enquanto que o discurso indireto é a narração de um diálogo, uma conversa, através do narrador, este que atua como mediador. Como se alguém estivesse lhe relatando uma conversa.

O seguinte exemplo, do Machado de Assis, ilustra bem os dois pontos:

(...)
– Não? [disse Brás Cubas]
– Não [disse Quincas Borba], saí muito cedo de casa. Sabe onde moro? No terceiro degrau das escadas de São Francisco, à esquerda de quem sobe; não precisa bater na porta. Casa fresca, extremamente fresca. Pois saí cedo, e ainda não comi...
Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil réis, – a menos limpa, – e dei-lhe. Ele recebeu-a com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado.
– In hoc signo vinces! Bradou.
E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil réis.
– Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
– Sim, acudiu ele, dando um bote para mim.
– Trabalhando, concluí eu.
(...)
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo LIX – Um encontro

Repare no trecho:

– Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.
– Sim, acudiu ele, dando um bote para mim.
– Trabalhando, concluí eu.

Se trata, claramente, de um discurso direto, pois mostra o exato dizer dos personagens, no momento em que se ocorre a fala.

Já neste outro...

(...) e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil réis.

Aqui o narrador é quem diz o que o Quincas Borba disse. Não há o travessão, ou qualquer outro indicador de fala, nem o discurso em si, como “desculpe! É alegria de pobre...; pelo contrário. Contudo é nos apresentado em igual sentido, pelo narrador.

Tal forma de discurso, é usada em excesso por contistas, porquanto o conto, sendo uma narrativa mais curta, limita o espaço de um longo diálogo, ao qual é reduzido ao discurso indireto, ao que foi falado, descrito por narrador.
Lovecraft faz isso o tempo todo. Na verdade, seus contos não possuem discursos diretos:

(...) Ele interrogou o escultor com minúcia científica (...). Wilcox disse depois, por sua demora em reconhecer tanto os hieróglifos quanto o desenho pictórico (...). Quando o professor se convenceu (...), encheu seu visitante com pedidos de que viesse relatar-lhe futuramente os sonhos que voltasse a ter (...).
Falou de seus sonhos num modo estranhamente poético, fazendo-me ver com assustadora nitidez a úmida cidade ciclópica de lodosa pedra verde (...).
Após recuperar a consciência, esse homem narrou uma estória excessivamente estranha de pirataria e chacina (...).

H. P. Lovecraft, O chamado de Cthulhu


É possível transformar, tranquilamente, um discurso indireto em direto, ou visse e versa. Assim, entenderá melhor:

Direto: - Maria, você é linda! – disse-lhe o porteiro.
Indireto: O porteiro elogiou Maria\ o porteiro disse que Maria era linda.

Direto: - Vou chegar atrasado amanhã, mas não se preocupem – disse João.
Indireto: Embora dissera João que chegaria atrasado, acrescentou também que não era preciso se preocupar.


Discurso Indireto Livre

O último dos três discursos, nada mais é que a junção dos dois outros. Ao mesmo tempo que o autor transmite ao leitor uma fala, uma opinião, um pensamento, quem o faz é o narrador, de maneira sutil. Assim, não se trata apenas de um relato do que foi falado, como faz o discurso indireto, ao passo que também não é a descrição de um diálogo, propriamente dito.
Em suma, é jogar as opiniões de um certo personagem de intrusas num certo trecho narrativo. O narrador não só narra o que acontece, aos fatos externos, mas também dá uma opinião.

Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era? Então metese um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo. Desentupia o bebedouro, consertava as cercas, curava os animais - aproveitava um casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha culpa? (. .)
Graciliano Ramos, Vidas Secas

Com o discurso indireto livre, o narrador deixa o externo e adentra a cabeça do personagem.
Veja uma comparação dos três discursos:

Direto: - Ah! Como estou cansado – dizia Pedro, ao percorrer, com o passo apressado, as ruas de São Paulo.
Indireto: Pedro percorria as ruas de São Paulo, num passo apressado, a murmurar seu estado deplorável de ânimo.
Indireto Livre: Num passo largo, percorria as ruas de São Paulo, sem hesitar. As pernas tremiam. Como estava cansado.

Direto: - Mas que Droga! – disse Marcos ao irmão, quando viu o carro da mãe pela janela. – Precisamos arrumar essa bagunça.
Indireto: Quando a mãe dos dois garotos finalmente chegou, depois de um palavrão, Marcos gritou ao irmão para que arrumassem logo toda a bagunça.
Indireto Livre: A mãe dos garotos chegara. Que droga! Tudo estava perdido! Tinham que arrumar toda aquela bagunça.



Enfim, bons textos.

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