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PERSONAGENS E MOTIVAÇÕES: ATIVOS E PASSIVOS

 


   Confesso que, de todas as técnicas que já ouvi sobre desenvolvimento de personagens, essa é uma das mais úteis. Não só para buscar a empatia dos personagens, mas também para conduzir de maneira sólida e convincente toda a história, e suas motivações, do qual, vejo como o ponto onde o erro predomina imperceptível, não só vindo das mãos amadoras, como das mais experientes.
   Na verdade, não se trata, realmente, de um erro. Mas mais de uma falta de adorno. Sem ela, pode até ficar legal, mas poderia melhorar.
   Enfim, do que eu estou falando? O que é isso? Bem, primeiro separemos as coisas. Vamos pelo grande conselho que dou aqui.

FAÇA PERSONAGENS ATIVOS


O que isso significa?

   Personagens ativos são aqueles que realizam as ações, provocam as reações e conduzem a história do jeito que eles bem entendem. Ou seja, são a causa, e não o efeito.
   Já personagens passivos são o contrário, como podem supor. São aqueles pobrezinhos que nada fazem, só reagem. São o efeito, e não a causa.

Passivos

   Como personagens passivos, temos grande parte dos super-heróis. Pense no Superman, Ele não é, na teoria, um personagem ativo, mas passivo. Porque não há ação da sua parte, apenas reação. Um bandido rouba o banco (ação, causa) e o herói vai combate-lo (reação, efeito); o bandido foge (ação, causa), o herói corre atrás dele (reação, efeito).
   Isso torna a história guiada por outros personagens, e não pelo protagonista, além de deixar um certo sentimento de estranheza nas motivações. Cogite consigo mesmo, se você fosse alguém com superpoderes e pudesse voar, por que, raios, combateria o “mau”? Eu conquistaria o mundo inteiro, e seria rico. Não que isso seja realmente uma vontade minha, daquelas que se deseja nos momentos mais displicentes da vida, mas seria exatamente o que eu faria se eu fosse o Superman.
   Veja que as motivações refletem o ser, e suas condições e limitações.
   Agora me diz, qual a motivação desse herói? Fazer o bem? Ora, isso é fantasia demais. E eis um ponto importante, do qual preciso destacar antes que me critiquem: A depender do estilo de sua história, tais aspectos, como motivações convincentes, talvez não se mostrem tão necessárias, como é o caso do próprio Superman, a olhar por uma ótica infantil.
   Mas, leve em consideração, por exemplo, a grande seriedade como os filmes de heróis são tratados hoje em dia, passando a ter um caráter mais adulto do que um dia já teve. O que não faz sentido. Não por uma cueca por cima da calça, isso é o de menos. Mas pelas motivações.
   Personagens ativos tendem a possuir motivações convincentes; personagens passivos não (embora exista, sim, alguns que a possuem).
   E há vários outros exemplos de personagens passivos. Alguns funcionam, outros deixam a desejar. O próprio Harry Potter, encarregado de ir para uma escola de bruxos; Frodo Bolseiro, encarregado de levar o anel à Valfenda (embora nesse ponto o hobbit seja passivo, no conselho que posteriormente acontece, se torna ativo, e faz a escolha de seguir até Mordor); Percy Jackson, encarregado de resolver o conflito entre os deuses, etc, são passivos na premissa da história. Mas funcionam de uma certa forma.

Ativos

   Personagens ativos se comportam de forma mais coerente. Eles guiam a história, e não esperam para agir, e isso gera conflito. E não há melhores conflitos do que aqueles provocados pelos próprios personagens, não havendo também, melhor motivação do que concertar um erro cometido.
   As Crônicas de Gelo e Fogo possuí bons personagens, que em sua maioria, são ativos. Pense neles. Podemos pegar como exemplo o Ned Stark: Se intrometeu nos assuntos de sucessão do Rei Robert (ação) e acabou por ser preso a mando do Joffrey (reação), suscitando a revolta no Norte.  
   Uma história sobre alienígenas que atacam a Terra, forçando os humanos a se defender, ficaria melhor se, os humanos atacassem os alienígenas, e eles revidassem com poder estupendo.
   Personagens movem a história, não o contrário.
   Um grande erro do começo de muitas histórias, é mostrar os outros fazendo coisas interessantes, enquanto os protagonistas ficam sentados, esperando.
   Faça-o tomar decisões, cometer erros e acertos, faça-o mover a coisa toda.
  

Ações causam motivações ou motivações causam ações?

   Tanto faz, na verdade. Ações que se mostram inconscientes ou não, podem gerar boas motivações, embora seja preciso discerni-la das circunstâncias como causa.
   Por exemplo: eu sigo pelo mesmo caminho todos os dias, da escola para casa. Mas um dia, eu pego um outro caminho (ação) e acabo sendo assaltado (reação), e então, decido que preciso recorrer à polícia (motivação).
   Se eu tivesse seguido o caminho normal, talvez não seria assaltado. Um dos pontos importantes é não deixar a trama nas mãos de outros elementos que não seja o protagonista, pois, ser assaltado do nada seria uma obra do acaso. E isso, não convence numa história, porque suscitaria aquele pensamento de que isso só aconteceu para acontecer aquilo.
   Pense: se o motorista do Francisco Ferdinando não tivesse errado o caminho do hospital, o assassino da Mão-Negra nunca o pegaria, naquele dia; e assim, o império Austro-Húngaro, (talvez) não teria motivo para declarar guerra à Sérvia (por mais que tenha sido tudo pretexto).    
Arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria visita Sarajevo - BBC Brasil - Vídeos e Fotos:
Francisco Ferdinando
  Ou ainda: Se o Japão não tivesse atacado Pearl Harbor, os Estados Unidos não necessitariam pressionar o Brasil, governado por Vargas, simpatizante do querido Hitler, a entrar do lado dos Aliados, nem faria uso (talvez) das bombas atômicas.
   Não faça protagonistas como o Brasil, não espere que alguém o dê corda.

   As motivações que causam ações são um pouco mais difíceis. Há sempre um porquê, uma lei da causalidade. É preciso saber a causa dessa motivação que leva o personagem a fazer algo.
   Acho bom evitar motivações muito superficiais como, ser rico, vingança, etc, pois estas ainda não saciam o porquê. É claro que existem exceções; é preciso julgar cada caso. Mas sempre admiro aquelas motivações que não são grandiosas universalmente, como estas que citei, mas grandiosas de forma subjetiva, somente para o protagonista, fazendo com que o leitor, a princípio não entenda o porquê, mas compreenda à medida que o personagem vai lhe convencendo.
  
Conclusão

   Não há receita para bons personagens, mas fazê-los parte fundamental da história torna-os especiais, criando empatia com o leitor. Por isso, esteja atento, e pergunte-se o que poderia ser melhorado. Torna-los tangíveis, envolve uma proximidade maior com a nossa realidade; as causas, os efeitos, as motivações e toda a ligação da trama com aqueles que a vivem, sua interação e poder de transcender as palavras.

   Quanto mais explorado seu personagem, mais carismático ele vai ficar. Assim, vá fundo e não tenha medo de errar, pois é para isso que existe a revisão.

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